por Regina Ramoska
Revista Pellegrino: Como a senhora avalia o desempenho do mercado de autopeças em 2024?
Ana Paula Soares: Em 2024, o mercado de autopeças tem se beneficiado da retomada econômica em alguns países, e no Brasil pudemos aproveitar um momento de forte manutenção da frota, resultante de anos de crescimento de venda de carros novos.
Empresas que se prepararam em gestão e atualizações tecnológicas e de seus profissionais estão acompanhando esse crescimento. Vale comentar também um comportamento crescente de consumidores buscando cada vez mais peças de reposição que ofereçam mais qualidade, prestação de serviço e menor impacto ambiental. Essas iniciativas claras beneficiam marcas como a Sabó.
RP: Como os resultados da Sabó neste ano se comparam aos anteriores?
Ana Paula: Os resultados da Sabó, comparados aos anos anteriores, se mantiveram de acordo com o esperado, ou seja, em crescimento, conforme planejado, pois avançamos em frentes importantes, principalmente na ampliação do nosso time de atendimento, um dos principais pilares, com presença no
mercado e na prestação de serviço.
RP: Qual foi o maior desafio e como foi superado?
Ana Paula: Usar a palavra “maior” talvez dê uma conotação de difícil, e não vejo dessa forma. Na verdade, tivemos, como sempre e qualquer empresa tem, alguns desafios que exigiram reflexão em busca de mais eficiência aliada a resultados: reunimos nosso time, revisamos processos e ferramentas de forma simples e em tempo recorde, aproveitando oportunidades de aumentar a capacidade tanto na fábrica quanto no atendimento.
RP: Quais são os destaques no portfólio da Sabó em 2024?
Ana Paula: Podemos destacar que em 2024, até agora, foram lançados 215 itens para o mercado de reposição dentre os diversos segmentos que atuamos: linha branca, leve, comercial leve, pesada, moto e agrícola. Podemos citar desde itens para motores três cilindros a tratores, além de uma forte atualização no portfólio de parafusos para fixação de cabeçote.
RP: A Sabó tem um trabalho consolidado com o reparador. Mas, hoje em dia, o consumidor final também está cada vez mais presente. Como a Sabó se relaciona com ele para consolidar a marca?
Ana Paula: Sim, a Sabó é uma marca com 82 anos de história, reconhecida por sua qualidade, mas também pela proximidade com o mercado. Já para o dono do carro, o consumidor lá na ponta, trabalhamos fortemente para transmitir nossos conteúdos, sejam técnicos, para quem quer conhecer mais nossas aplicações, sejam comerciais, para conhecer mais os nossos produtos, além de curiosidades sobre o mundo automotivo. Utilizamos nossas redes sociais como o Instagram, o Facebook, o Youtube, o LinkedIn e até mesmo o TikTok para acompanhar os interesses dos consumidores, que estão cada vez mais conectados.
RP: Qual a importância do feedback dos clientes para a Sabó? Como a empresa utiliza esses dados para aprimorar seus produtos e serviços?
Ana Paula: Os feedbacks são muito importantes para nós, somos uma empresa atuante no mercado e buscamos oferecer muito mais do que “apenas” produtos. Queremos entregar soluções para os nossos clientes, e isso só é possível construindo um relacionamento de confiança e fidelização, e, por meio dessas interações, nos aproximamos do público e entendemos as demandas do mercado.
RP: Como a Sabó está abordando a questão da obsolescência de peças em face do rápido avanço tecnológico?
Ana Paula: Nossa engenharia respira inovação, e acompanhamos as evoluções tecnológicas muito de perto. Nossa indústria está voltada para o desenvolvimento, e temos frentes importantes cuidando disso. Porém, temos como premissa acompanhar de perto também a realidade dos mercados de cada elo da cadeia que atendemos, desde a montadora até a reposição. É um cuidado fundamental para não avançarmos demais ou deixarmos algo ainda importante para trás.
RP: Como a Sabó está se adaptando às novas tecnologias para aprimorar seus produtos e serviços aos clientes? Houve alguma inovação ou mudança significativa nos processos?
Ana Paula: Nosso trabalho em 2024 foi de reforço na estrutura de atendimento, envolvendo novas contratações com o objetivo de estar cada vez mais presente no mercado, com implementação de ferramentas de gestão que facilitarão a nossa comunicação e percepção.
RP: Quais são os principais desafios que a Sabó enfrenta na distribuição?
Ana Paula: Acredito não ser uma exclusividade da Sabó, temos uma rede consolidada há muitos anos e consideramos o distribuidor uma extensão da fábrica a fim de disponibilizar nossos produtos com o melhor atendimento; fato que o Brasil é enorme e tem suas peculiaridades, e nossos parceiros têm aumentado suas filiais significativamente, o que nos leva a ter que acompanhá-los em tempo recorde com produção, atendimento e serviços.
RP: Como a Sabó está se posicionando em relação às tendências do mercado de autopeças para 2025?
Ana Paula: Estamos atentos a algumas mudanças significativas no modelo de comercialização e na expansão da nossa rede, além de novas necessidades tecnológicas e logísticas.
RP: Como a Sabó enxerga o mercado de autopeças em 2025? Quais os planos da empresa? Há lançamentos previstos?
Ana Paula: Entendemos que o mercado de autopeças continuará crescendo em 2025, com um desempenho moderado comparado aos últimos quatro anos. E, sim, claro, pretendemos continuar o nosso planejamento de entregar soluções ao mercado de reposição por meio de lançamentos, sempre de acordo com a demanda do setor, mantendo o nosso foco no atendimento e na prestação de serviço.
RP: Como a Sabó se mantém competitiva em um mercado cada vez mais desafiador?
Ana Paula: Olhamos com atenção as necessidades do mercado, compreendendo o que o cliente precisa e como podemos ajudá-lo, com um time consolidado e “inteirado”, que conhece bem a empresa e sua missão, criando parcerias duradouras e fortes. Em tempos de “tudo caminha muito rápido”, saber parar e ouvir o que o cliente e o mercado têm a nos dizer pode ser muito importante para consolidação de ideias e planejamento prático.
RP: Na sua opinião, o que mais tem impactado a receita das empresas nos últimos anos?
Ana Paula: Nos últimos anos, vários fatores têm impactado significativamente a receita das empresas, de forma positiva ou negativa. A pandemia de covid-19 trouxe uma incerteza econômica para as empresas, principalmente no início, porém, ao longo do tempo, alguns setores se adaptaram, o que impulsionou a recuperação da receita, especialmente com a abertura de novos canais digitais como o comércio eletrônico e em indústrias que aceleraram a digitalização. A interrupção das cadeias de suprimentos, também influenciada pelo conflito geopolítico e pela escassez de componentes, afetou diretamente a produção e a entrega de produtos, resultando em atrasos e aumento de custos. Em contrapartida, as empresas que adotaram tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, big data e automação de processos, aumentaram a eficiência e reduziram custos, ampliando a receita e se mantendo competitivas e vivas no mercado.
]]>por Regina Ramoska
Revista Pellegrino: Como o senhor avalia o desempenho do aftermarket neste ano?
Ranieri Leitão: O aftermarket mostrou uma forte capacidade de adaptação em um cenário de adversidades econômicas. Embora os desafios, como a inflação e as flutuações cambiais, tenham impactado o setor, a demanda se manteve consistente, principalmente devido à necessidade de manutenção da frota mais envelhecida. Os principais obstáculos foram a gestão de custos e a necessidade de inovação para continuar competitivo em um mercado em rápida transformação. No entanto, o mercado soube reagir com resiliência, demonstrando a importância de priorizar tanto a eficiência operacional quanto o foco no cliente.
RP: Considerando a complexidade do sistema tributário, quais os principais impactos tanto para as empresas quanto para os consumidores finais?
Ranieri Leitão: A complexidade e a alta carga do sistema tributário brasileiro são, sem dúvida, um dos maiores entraves ao desenvolvimento do setor automotivo. Elas dificultam a competitividade das empresas, que precisam lidar com uma estrutura
de custos muito elevada, inibindo a capacidade de investir em inovação e em melhores serviços. Para o consumidor final, isso se reflete em preços mais altos e menos opções acessíveis. Uma reforma tributária que simplifique o sistema e reduza a carga fiscal traria benefícios significativos para toda a cadeia automotiva, permitindo que as empresas se concentrem no que realmente importa: criar valor para o cliente e melhorar a sua experiência.
RP: Como a implementação do Right to Repair pode impactar a competitividade e a inovação no mercado de reposição automotiva?
Ranieri Leitão: A implementação do Right to Repair é um passo importante para tornar o mercado mais justo e competitivo, garantindo que reparadores independentes tenham acesso às informações técnicas necessárias para realizar reparos de alta qualidade. A medida ainda favorece a inovação, pois exige que as empresas busquem se diferenciar pela excelência no atendimento e pela capacidade de criar novas soluções. É fundamental lembrar que essa mudança também beneficia o consumidor final, que terá mais opções para realizar manutenções seguras e acessíveis, contribuindo para a preservação da qualidade e segurança dos veículos.
RP: Quais são os principais desafios e benefícios da inspeção técnica veicular (ITV)?
Ranieri Leitão: A ITV desempenha um papel fundamental não apenas na preservação ambiental, mas, acima de tudo, na preservação de vidas. Garantir que os veículos em circulação estejam em boas condições de funcionamento é crucial para reduzir o risco de acidentes e proteger motoristas, passageiros e pedestres. O maior desafio está em criar uma infraestrutura eficiente e conscientizar a população sobre a importância da manutenção preventiva, que não só melhora a segurança nas estradas, mas também prolonga a vida útil dos veículos.
RP: Com o envelhecimento da frota, quais as oportunidades para o mercado de reposição?
Ranieri Leitão: O envelhecimento da frota brasileira apresenta uma oportunidade significativa para o mercado de reposição. Veículos mais antigos requerem maior frequência de manutenção, o que gera uma demanda crescente por serviços de reparação e peças. O foco do setor deve ser capacitar a mão de obra, promover soluções acessíveis e conscientizar o cliente sobre a importância de cuidar de seu veículo. O resultado é duplo: melhora-se a segurança e abre-se um novo leque de oportunidades para as empresas.
RP: De que maneira a descarbonização e as reformas tributárias podem influenciar a mobilidade e a estrutura do mercado de reposição automotiva no Brasil?
Ranieri Leitão: À medida que o mundo avança para uma mobilidade mais limpa e eficiente, o mercado precisará se adaptar às demandas por peças e serviços voltados para veículos que estarão contemplados com diferentes matrizes energéticas. Paralelamente, a reforma tributária pode simplificar a vida da maioria das nossas empresas, aliviando a carga fiscal e promovendo maior competitividade.
Porém, a nossa preocupação com o setor de serviços automotivos continua, pois esse setor será bastante afetado com um considerável aumento de impostos. O ponto central é que essas mudanças impactam não apenas o aspecto econômico, mas também o social: ao adotar práticas mais sustentáveis e buscar maior eficiência, estamos contribuindo para um futuro em que a mobilidade seja mais acessível, segura e benéfica para todos.
RP: Quais os desafios na gestão de estoques, considerando a grande variedade de veículos e a rápida obsolescência de alguns componentes?
Ranieri Leitão: Equilibrar a oferta para garantir que as peças certas estejam disponíveis no momento certo é essencial para atender à demanda e evitar custos excessivos com estoque parado. O uso de tecnologia, como sistemas de gestão avançada e análises preditivas, é fundamental. No entanto, é importante não perder de vista o fator humano: garantir que o cliente receba o que precisa, no prazo esperado, faz toda a diferença na construção de confiança e fidelidade.
RP: Com a crescente preocupação ambiental e a busca por práticas sustentáveis, como o aftermarket pode oferecer soluções inovadoras?
Ranieri Leitão: O aftermarket automotivo desempanha um papel fundamental ao adotar práticas sustentáveis, como a reutilização com responsabilidade de peças, a reciclagem e o uso de materiais eco-friendly. A adaptação a essas novas práticas, além de ser uma oportunidade de inovação, atende a uma exigência crescente dos consumidores por soluções que minimizem o impacto ambiental.
RP: A Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) prevê que os veículos elétricos e os híbridos representarão cerca de 10% do mercado em 2025. Qual o impacto na reposição?
Ranieri Leitão: Não acredito que veículos elétricos e híbridos representarão 10% da nossa frota em 2025; entretanto, o crescimento desse mercado é um desafio significativo para a reposição, principalmente em termos de qualificação da mão de obra e adequação dos equipamentos. Esses veículos exigem tecnologias e habilidades específicas para a manutenção, o que implica investimentos contínuos em capacitação.
RP: Considerando o ambiente digital e a perda gradual do contato “ao vivo” com o cliente, que estratégias podem fortalecer a marca e manter esse relacionamento?
Ranieri Leitão: Criar experiências interativas, proporcionar um atendimento de excelência e utilizar as redes sociais para engajamento podem ajudar as empresas a se aproximarem de seus clientes, mesmo à distância. O desafio é criar valor nos pontos de contato, garantindo que o cliente se sinta ouvido e importante.
RP: Quais as expectativas para o crescimento do e-commerce e das plataformas digitais?
Ranieri Leitão: Investir em plataformas digitais robustas e seguras, oferecer uma experiência de compra fluida e otimizar a logística serão pontos-chave para o sucesso. Mesmo no ambiente on-line, o atendimento ao cliente deve ser rápido, personalizado e transmitir confiança. A conveniência aliada a um atendimento de qualidade será o grande diferencial para conquistar e fidelizar clientes.
RP: Quais os principais desafios e oportunidades em 2025?
Ranieri Leitão: Principalmente, equilibrar a gestão de custos com a necessidade de inovação e competitividade. As empresas que conseguirem otimizar processos e manter a eficiência operacional terão mais chances de se destacar, e a fidelização de clientes continuará sendo um diferencial competitivo: oferecer um atendimento personalizado e proporcionar soluções rápidas serão a chave para conquistar a sua lealdade. As oportunidades surgem justamente para as empresas que colocarem o cliente no centro de sua estratégia, criando um ciclo de confiança e satisfação.
desafios para os profissionais da área
por Rosiane Moro
Revista Pellegrino: Depois de 30 anos atuando no setor da reparação automotiva, quais foram os principais aprendizados da sua carreira?
Luiz Sergio Alvarenga: O balanço, de forma resumida, é que a minha trajetória fez com que eu passasse praticamente em todas as entidades que militam no pós-venda e no aftermarket. Então, o meu ângulo de visão foi construído por meio do contato
com os empresários do setor e da análise de como as decisões coletivas eram tomadas, o que me deu ótima bagagem para transitar em vários segmentos, como concessionárias, distribuidoras, varejo e reparação, além de governo e outras instituições nacionais e internacionais, resultando em um rico aprendizado profissional.
RP: Um dos marcos da sua carreira foi a participação na criação das Normas ABNT para o setor da reparação. Como foi esse processo?
Alvarenga: Eu tinha a indústria como uma referência, sempre regida por regras. Assim, me aproximei da Associação Brasileira de Normas Técnicas para entender como era o processo normativo e até que ponto seria relevante para o aftermarket, um mercado focado no lado comercial. Vi ali um bom instrumento para padronizar alguns serviços,
como a garantia de peças, a cobrança de clientes, as especificações do produto. Desenhar as normas foi um desafio absurdo porque era uma escola nova e precisei sentar com todo o setor para desenvolver as especificações que não existiam. Naquela época, cada um fazia do jeito que queria. “Ah, mas a fábrica orienta”, só que são várias fábricas de um mesmo produto e cada uma explica de um jeito. Resumindo, ali estava a chance de a gente começar a criar um padrão que iria beneficiar todo o trading.
RP: Qual a relevância dessas normas para o mercado atualmente?
Alvarenga: Sinceramente, o setor não usou as normas como eu imaginava, como na tratativa com o consumidor, na tratativa de uma garantia de produto e na tratativa de redes de serviços, porque eram regras neutras. Talvez ainda falte maturidade ou as
questões ainda estão no tempo errado. Pode ser que isso ainda venha muito forte no futuro em função de judicialização dos processos, mas o trabalho não foi em vão. As normas evoluíram, já são mais de 25 no momento, o que permitiu criar a certificação das empresas e a certificação de profissionais. Algo foi semeado ali, o que me deixa mais feliz.
RP: Qual a importância da qualificação profissional para os reparadores automotivos,
especialmente nesta fase de transição tecnológica?
Alvarenga: A educação é um dos temas que mais me toca porque a escolaridade é a base de uma sociedade. Acredito que a capacitação profissional é o maior gargalo do nosso setor e isso tem que ser uma discussão de todos, porque não podemos esperar cinco, dez ou 15 anos para formar uma pessoa. Ao mesmo tempo, não é um vídeo de cinco minutos no YouTube que vai resolver o problema. Então, qual é a solução? Eu não sei, só sei que tem um choque entre o avanço da tecnologia e a profissionalização do setor, as coisas não estão equalizadas.
RP: O que pode ser feito para melhorar a situação?
Alvarenga: O modelo usado hoje é paliativo, como o sistema do treinamento do Senai ou mesmo de algumas indústrias. Pelo tamanho do país, o volume de pessoas e dos interesses que existem, acho que as ações educacionais deveriam ser melhoradas e mais coordenadas. É como se eu fizesse um curso com você e na semana seguinte fizesse o mesmo curso com outro instrutor, mas ninguém sabe que já fiz o mesmo curso. Na prática, era necessária uma complementação dessa aprendizagem para o profissional ir evoluindo, como em uma escola, onde há um acompanhamento pedagógico. Sinto que isso ainda é uma coisa muito distante no nosso setor, um gargalo dos mais graves.
RP: Além da qualificação profissional, quais são os próximos desafios que a área
de reparação vai enfrentar?
Alvarenga: Não vejo os desafios ligados às inovações do setor. Sabemos que a tecnologia é implacável, vai sempre evoluir porque está baseada em questões
ambientais e de segurança, não tem escapatória. Mas se há algo que realmente
nos assusta são os dados dos veículos. Os veículos se tornaram um monte de
semicondutores, o famoso computador sobre rodas, que gera muita informação, e esses dados serão a mina de ouro dos negócios daqui pra frente. No momento, o detentor do dado é a montadora, porque ela é dona de todo o conjunto. Então, me parece uma coisa meio nebulosa, pois, se um determinado setor detém toda a informação, isso muda o jogo, gerando uma vantagem competitiva absurda. Além disso, tem uma série de pegadinhas no meio, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que ninguém está falando sobre isso, mas logo alguém vai ligar os pontos. É uma questão de compliance e não acho tão simples desatar esse nó. Eu diria que esse é o grande desafio.
RP: Esse tema tem a ver com o movimento Right to Repair?
Alvarenga: Ele está dentro, mas na realidade você tem dois movimentos. Um é o Right to Repair, que tem a ver com o bloqueio de informações tecnológicas do carro, que as oficinas não têm acesso. A questão dos dados eu diria que está mais relacionada à conectividade, que é o Right to Connect. Uma coisa é obter informação para consertar o carro com produtividade, a outra é a informação que o carro gera. Vou dar um exemplo mais lúdico: você dirige o seu carro mais tecnológico, aí pisa no freio, acelera, liga o rádio, usa a multimídia, a montadora está lendo tudo o que você faz. Ela sabe
a rádio que você escuta, em qual horário, quantas vezes pisa no freio, se faz muita
curva brusca para a esquerda. Essa é a vantagem competitiva.
RP: Em relação ao movimento Right to Repair, conseguimos avançar algum ponto?
Alvarenga: Houve um avanço tímido com a aliança de entidades para trabalhar
a bandeira do Right to Repair. A gente sabe que surgiram alguns projetos de lei que tratam disso, mas no campo dos equipamentos eletrônicos. Ou seja, o tema já chegou mais perto, mas ainda não sensibilizou o poder público. Há um conhecimento maior por conta do alinhamento de entidades em torno de um guarda-chuva global, o que é uma evolução, mas do ponto de vista prático nada foi resolvido ainda.
RP: Como o tema da sustentabilidade irá impactar os reparadores no futuro?
Alvarenga: Evoluímos bastante em relação a alguns quesitos, como a fumaça preta e o descarte do óleo, mas ainda há muito a avançar, em especial no setor de pneus. As baterias ainda precisam ter a logística reversa resolvida. Já os setores que possuem valor material estão mais organizados, como é o caso do aço. O problema é que são muitos itens, e a própria legislação não consegue cobrir tudo. Há ainda a necessidade de campanhas educativas mais consistentes e com maior regularidade.
RP: Que mensagem você gostaria de deixar para os reparadores?
Alvarenga: Como recado final, vou usar uma frase do Steve Jobs que diz “você não pode conectar os pontos olhando para a frente, você só pode conectá-los olhando para trás, então você tem que confiar que os pontos de alguma forma se conectarão no seu futuro”. É isso! Se a gente não tem memória, não registra o que fizemos no passado, não teremos parâmetros para seguir adiante.
]]>“2022 será ótimo para a reposição”
Apesar de ainda haver dificuldade no abastecimento de matéria-prima e componentes, o setor teve grande recuperação de 2020 para 2021, quadro este que deve se manter em 2022, segundo Marcus Vinicius Pereira, à frente da Diretoria de Aftermarket América do Sul da SABÓ
Por Paulo Carneiro
REVISTA PELLEGRINO Há quase 80 anos, a SABÓ começou sua trajetória numa modesta bancada na Mooca, em São Paulo, e hoje é referência mundial em autopeças. Quais são os pilares que sustentam essa liderança?
MARCUS VINICIUS PEREIRA Existem na SABÓ investimentos constantes em desenvolvimento tecnológico de produtos e processos, sendo este um dos principais pilares. A identidade da marca com seu portfólio e os canais de distribuição também são fortes aliados na consolidação da empresa e, claro, a dedicação da equipe, levando sempre informação e conhecimento diretamente para o reparador, fazendo com que a SABÓ seja reconhecida não apenas como marca da reposição, mas com a mesma importância e reconhecimento como original.
RP Em oito décadas, ela chega agora à terceira geração como empresa familiar, acompanhando de perto a evolução do próprio mercado. Qual é o segredo dessa ágil e permanente renovação?
MARCOS VINÍCIUS Com certeza, em um país como o Brasil, trata-se de um desafio. Mas atitudes como governança, gestão altamente profissional, reconhecimento e respeito aos profissionais, buscando sempre respeitar e viver os valores da empresa são fatores importantes e determinantes para a longevidade. O entendimento do mercado também é de extrema importância para que uma empresa se mantenha, através de relacionamento com o seu público. Há uma troca de informações e ideias que auxiliam a agregar ainda mais valor e consolidação da marca.
RP A marca é referência mundial em sistemas de vedação, juntas e retentores. Qual é o peso do mercado brasileiro de reposição?
MARCOS VINÍCIUS A SABÓ, desde sempre, em seu direcionamento estratégico, desenvolve projetos que atendam às necessidades de todos os elos da cadeia do aftermarket. Temos projetos consolidados há anos, como por exemplo a consultoria técnica, os promotores externos, o Caderninho SABÓ, programas de incentivo como o Top Performance e Desempenho SABÓ, entre outros, que já completaram mais de 20 anos. Tudo isso fez do aftermarket o nosso principal negócio, o que nos levou a índices expressivos de participação no mercado brasileiro e da América Latina.
RP Diante da variedade de produtos e da sofisticada tecnologia, como funciona o controle de qualidade?
MARCOS VINÍCIUS Para isso, realizamos constantes pesquisas e investimentos, assim como mantemos um laboratório com equipamentos de última geração para testar e constatar a qualidade dos produtos. Temos certificado ISO e IATF, acompanhados sempre de perto, que atestam que a SABÓ segue os maiores, mais altos e rígidos padrões de qualidade exigidos pelas principais montadoras do mundo.
RP As falsificações ainda são uma ameaça a marcas consagradas. Quais são as ações tomadas contra a chamada pirataria?
MARCOS VINÍCIUS Esse é um problema recorrente no aftermarket, infelizmente. Nosso foco principal é treinar e esclarecer. Em nossas palestras, visitas, treinamentos e atendimentos, sempre abordamos esse tema, pois tanto os varejistas quanto os aplicadores têm que ter um conhecimento básico sobre nossos produtos. Isso faz toda a diferença na hora da compra. Além disso, divulgamos a nossa rede oficial de distribuidores e alertamos que preço abaixo do mercado e falta de nota fiscal são sempre motivo de desconfiança. No nosso dia a dia, independentemente do tipo de produto que adquirimos, somos conscientes do que é certo. Quanto ao errado, aquela frase “o barato sai caro”, quase sempre é verdadeira.
RP Uma pesquisa do Instituto Ipsos, este ano, destacou a SABÓ como a marca preferida entre os varejistas. A que se deve essa preferência?
MARCOS VINÍCIUS Esse é o melhor momento, o reconhecimento do nosso trabalho, do nosso relacionamento com esse segmento. Como mencionei acima, temos programas que já duram mais de 20 anos, somos presentes, treinamos, ouvimos as necessidades do segmento e solucionamos problemas. A SABÓ tem profissionais qualificados para atender em todo o território nacional, cuidando sempre desse relacionamento. Aproveito esse espaço da Revista Pellegrino para agradecer o reconhecimento, esforço e dedicação à marca SABÓ.
RP Antes da pandemia, havia uma concorrida programação de palestras para reparadores e equipes de vendas. Os encontros presenciais já foram retomados?
MARCOS VINÍCIUS Como todos os eventos, estão sendo retomadas aos poucos, mas ainda seguindo os protocolos de segurança exigidos pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Retomaremos encontros para que todos possam aproveitar ao máximo todo o conhecimento que podemos oferecer. Para participar das palestras presenciais, basta fazer a solicitação através do nosso site https://www.sabo.com.br/treinamentos, onde é possível também encontrar palestras on-line com os temas: retentores de cubo de roda, montagem de flanges e retentores e retentores de haste de válvula.
RP Como funcionou o “Caderninho SABÓ” durante a quarentena? Quais as lições deixadas por esse período de confinamento?
MARCOS VINÍCIUS O “Caderninho SABÓ”, mesmo antes da pandemia, já havia sido transferido do impresso para o formato on-line. Com a pandemia, as informações se intensificaram, pois, com o distanciamento social, ele foi de extrema importância para que pudéssemos continuar levando as informações ao nosso público. Também passamos a fazer algumas palestras de forma on-line para os distribuidores e a disponibilizar no canal oficial da empresa no Youtube as palestras sobre juntas, retentores e undercar para os reparadores.
RP Em linhas gerais, qual é a política ambiental da empresa? Quais as orientações para descarte correto e logística reversa?
MARCOS VINÍCIUS Essa é uma preocupação constante em todas as etapas de produção da SABÓ. Grande parte de nossos produtos pode ser reciclada, desde que não tenham sido contaminados com óleo, como ainda pode acontecer com alguns tipos de juntas. Sempre orientamos nossos clientes a fazerem o descarte correto, mantendo inclusive em nosso site uma página orientando sobre o descarte. Também aderimos a um programa de logística reversa para o descarte de nossas embalagens, que são recolhidas e devidamente recicladas.
RP Em linhas gerais, qual é a política ambiental da empresa? Quais as orientações para descarte correto e logística reversa?
MARCOS VINÍCIUS Essa é uma preocupação constante em todas as etapas de produção da SABÓ. Grande parte de nossos produtos pode ser reciclada, desde que não tenham sido contaminados com óleo, como ainda pode acontecer com alguns tipos de juntas. Sempre orientamos nossos clientes a fazerem o descarte correto, mantendo inclusive em nosso site uma página orientando sobre o descarte. Também aderimos a um programa de logística reversa para o descarte de nossas embalagens, que são recolhidas e devidamente recicladas.
RP Como o Sr. analisa o desempenho do aftermarket em 2021? Quais são as expectativas para o próximo ano?
MARCOS VINÍCIUS Em 2021 tivemos uma grande recuperação em relação a 2020, conseguimos melhorar significativamente nosso atendimento, apesar de ainda encontrarmos muitas dificuldades em relação a abastecimentos de matéria-prima e componentes. Estamos trabalhando normalmente com todas as nossas equipes presentes no mercado, promovemos ações, treinamentos, continuamos com lançamentos e focamos no nosso projeto do marketing digital. Tudo isso já visualizando os próximos 5 anos. O próximo ano, especificamente, será ótimo para o mercado de reposição pois a frota em circulação vai continuar crescendo, e hoje os aplicadores estão colhendo a maior frota demandante fora da garantia na história do aftermarket. Além do mais, a SABÓ completará 80 anos! Um marco na história da empresa. Com certeza, teremos muitas novidades vindo por aí! Aguardem!
RAIO-X
Fundada em 1942, a SABÓ é líder de mercado no segmento de retentores, juntas e material de vedação.
Tem fábricas em São Paulo e em Mogi Mirim, interior do estado.
Atualmente, conta com 1.200 colaboradores.
Mais informações
]]>Por Paulo Carneiro
REVISTA PELLEGRINO A Nakata inicia nova etapa em sua trajetória com a inauguração do Complexo Nakata, em Extrema (MG), ocorrida em agosto. Quais são os reflexos imediatos do empreendimento nas relações com o mercado? O que significa em termos de competividade global?
SÉRGIO MONTAGNOLI O Complexo Nakata é uma transformação disruptiva. O projeto foi elaborado não só para manter a manufatura no Brasil, mas para competir mundialmente, atendendo aos padrões da indústria 4.0, com todo o suporte tecnológico industrial da Randon Tech Solutions (RTS), empresa do grupo voltada à inovação e soluções em tecnologia industrial. Somado às inovações tecnológicas na planta, o fato de o centro de distribuição estar no mesmo complexo traz outra vantagem competitiva: agilidade de transferência dos produtos da fábrica direto para o centro de distribuição, reduzindo significativamente o lead time de fabricação.
A Nakata poderá ampliar a oferta de produtos e reduzir o tempo de entrega, bem como terá mais agilidade na cobertura para novos modelos de veículos. Contudo, com uma fábrica mais moderna, podemos acelerar nosso processo de melhoria contínua, tanto de produção, traduzida em preços mais competitivos, como para produzir novos amortecedores com inovações embarcadas já vendidos em outros mercados.
A empresa mostra que está comprometida com a reposição, investindo em um projeto audacioso e que visa oferecer, primeiramente, agilidade no desenvolvimento e abastecimento de produtos, garantindo a peça certa, no lugar certo, com amplo acesso ao mercado. Uma fábrica desse porte, com equipamentos de última geração, garante eficiência na produção, ganho de competividade e rapidez na entrega, suportando as necessidades atuais e as novas demandas.
RP Quais são os planos de expansão para os próximos anos?
MONTAGNOLI A nova planta nasce com a tecnologia 4.0 para, mais que dobrar a capacidade atual de produção dos 900 modelos, possibilitar novos desenvolvimentos. É um grande salto para garantir alta competividade no mercado nacional e exportação, com todos os padrões de excelência das unidades fabris da Fras-le ao redor do mundo, trazendo um novo diferencial para a Nakata, que já é reconhecida por outros atributos, principalmente aqueles ligados à proximidade e soluções para o mercado de reposição. Portanto, embora tenha sido elaborado para competir mundialmente, o projeto começa com efetivos ganhos em produtividade e oportunidades para atender às necessidades do nosso plano de negócios para o Aftermarket no Brasil.
RP Essas mudanças ocorrem no âmbito da incorporação da Nakata pela Fras-le, concluída no ano passado, somando as forças de duas das maiores empresas de autopeças do país. Em que consiste a sinergia derivada dessa união?
MONTAGNOLI A união forma um dos maiores fornecedores para o mercado de reposição no Brasil, na soma de conhecimento e habilidades, tendo como resultado um amplo portfólio de produtos, com soluções cada vez melhores e inovadoras. Fazer parte da Fras-le e, por consequência, do grupo Empresas Randon, amplia nossas possiblidades em pesquisa e capacidade de execução de forma contínua, seja com base no centro de pesquisa voltado para tecnologia de produtos, o CTR Innovation Lab, com um ambiente de pesquisa, desenvolvimento e testes próprios, seja pelo desenvolvimento de soluções exclusivas para os meios de produção e automação industrial. A RTS Industry é uma empresa formada para dar suporte às empresas do grupo e garantir sinergia do futuro desta união.
RP Em seus quase 70 anos de história, a empresa é líder em suspensão, notadamente em bandeja, pivô e bieleta, além de barra de direção, transmissão e freios. Quais são os planos para consolidar e ampliar essa liderança?
MONTAGNOLI Para consolidar a liderança, a empresa busca oferecer soluções para proporcionar aos mecânicos e demais agentes de negócio a melhor experiência com a marca em todos os pontos de contato ao longo de sua jornada, seja na venda ou aplicação. Mas o desenvolvimento de produtos, a ampla cobertura de linhas e veículos e a manufatura moderna e competitiva ao redor do mundo são os motores para expansão no aftermarket e em outros segmentos. Assim, é possível aumentar o volume produzido, atender à complexidade de novos modelos de veículos, sejam leves, comerciais ou motopeças, e especificações de novos produtos, com a mais absoluta segurança do nosso padrão de qualidade e atendimento.
RP A marca foi pioneira no país na produção de amortecedores HG e tem um posicionamento sólido também nos convencionais. Qual a estratégia adotada para chegar à liderança absoluta?
MONTANOLI Estamos sempre alinhados ao desenvolvimento de novas tecnologias para adotar novos materiais e novos processos de fabricação. Agora, como parte do grupo Fras-le, nosso objetivo é disponibilizar, mais ainda, as peças de forma ágil e competitiva, atendendo à complexidade crescente dos novos modelos de veículos. Acreditamos no conceito estendido de produto, que envolve, além da qualidade e performance da peça em si, todos os serviços relacionados ao pré e ao pós-vendas. E tudo isso embalado pelos nossos maiores diferenciais: a proximidade com os clientes e o real objetivo de trabalho integrado, permitindo confiança e fluidez das informações, agilidade nas respostas e prontidão nas ações. Assim, temos construído reconhecimento da nossa marca e o caminho para liderança.
RP Como é feita a pesquisa sobre demandas da reposição no diversificado mercado brasileiro? O que orienta o desenvolvimento de produtos?
MONTAGNOLI A área de engenharia e desenvolvimento de produtos trabalha com algoritmos que reúnem diversas variáveis, tais como tamanho e idade da frota por modelo de veículo, exigência, criticidade e durabilidade de cada componente, priorizando e dando maior agilidade para complementar novos itens para as linhas já existentes. Novas linhas são eleitas e desenvolvidas em função da coleta de dados da nossa assistência técnica, equipes de vendas e clientes, sempre buscando levar maior qualidade, variedade e disponibilidade de peças na mesma velocidade em que as demandas surgem nas oficinas.
RP Qual o percentual de cobertura da frota brasileira pela Nakata atualmente?
MONTAGNOLI A Nakata conta com mais de 4.700 itens em seu amplo portfólio, que está em constante evolução, para linhas de suspensão, direção, freio e transmissão, tanto para carros, motos, quanto para caminhões e ônibus, com cobertura de quase 95% da frota de veículos.
RP A marca também se destaca entre as mais compradas e admiradas pelos mecânicos, segundo o Ibope. O que motiva essa preferência?
MONTAGNOLI Somos uma empresa 100% focada no aftermarket. Este é um dos principais componentes da nossa estratégia de atuação focada em reconhecer as oportunidades para melhor atender os nossos clientes. Não é apenas parte de um discurso ou um quadro na parede, mas o propósito que une nossas pessoas em prol de um objetivo comum: proporcionar ao mercado a peça certa, na hora e local certos, com diagnóstico e serviços de reparação executados corretamente, dando segurança ao transporte de pessoas e bens, tornando o veículo usado tão seguro e confiável como um novo.
RP Como o Sr. avalia o desempenho das vendas neste ano, incluindo o segundo semestre? Em sua opinião, o que 2022 reserva para o aftermarket?
MONTAGNOLI O desempenho das vendas na reposição está em evolução, mantendo resultados satisfatórios. Para 2022, a previsão é continuar em ascendência. Isso porque a demanda do aftermarket é gerada pela frota circulante. Assim, há incremento na frota mesmo quando as vendas de novos estão retraídas. Temos que considerar também a histórica sazonalidade do setor, ou seja, o segundo semestre é melhor que o primeiro, levando em conta também uma melhora progressiva da economia por conta de redução, até agora, das medidas de isolamento social e restrições de circulação de pessoas. Em resumo, está bom e pode ficar ainda melhor.
RAIO-X
A Nakata Automotiva, fabricante de autopeças para o mercado de reposição para veículos leves, pesados e motocicletas, tem mais de 65 anos de história, com liderança em componentes de suspensão e amplo portfólio em direção, transmissão, freios e motopeças. É pioneira na fabricação do amortecedor HG pressurizado no Brasil.
Pertencente à Fras-Le, fabricante global de materiais de fricção originais que faz parte das Empresas Randon, a Nakata empresa atende o mercado nacional e também comercializa seus produtos em 120 países. Atualmente, possui 504 colaboradores.
MAIS INFORMAÇÕES: https://nakata.com.br/
]]>Por Paulo Carneiro
REVISTA PELLEGRINO Na contramão do pessimismo, a Bosch fechou 2020 com faturamento de 6,9 bilhões de reais na América Latina, com crescimento de 6% em relação ao ano anterior. Fale um pouco sobre a estratégia que levou a esse resultado.
DELFIM CALIXTO A América Latina é uma região estratégica para o Grupo Bosch. Temos uma presença regional forte e com foco no desenvolvimento de estratégias específicas para os mercados onde atuamos, bem como um portfólio diversificado, que agrega vantagem aos negócios na região. Temos muitos pontos fortes, como a nossa capacidade de inovação, que faz parte do DNA da Bosch, visão de longo prazo, estratégia global definida, os próprios Valores Bosch, além de atuação em diferentes setores, entre eles: mobilidade, agronegócios, logística e Indústria 4.0. Entendemos que a digitalização, a conectividade e o big data são a base futura dos novos modelos de negócios e as nossas soluções e serviços seguem essa tendência e atendem às necessidades do mercado local, gerando oportunidades de crescimento para Bosch em toda a região. Assim, o potencial para o desenvolvimento e expansão dos negócios da Bosch, não apenas no Brasil, é amplo. E, apesar dos momentos de crise, como a pandemia, e dos cenários econômicos e políticos, acreditamos no mercado da América Latina para seguir criando e oferecendo “Tecnologia para a vida”.
RP Nesse contexto, qual foi a participação do Brasil e, especificamente, do aftermarket?
CALIXTO O que posso dizer é que o setor da mobilidade, que inclui o aftermarket, é responsável por mais de 60% do faturamento da Bosch na América Latina. A Bosch não divulga esses dados por unidades de negócios.
RP O que motivou a transferência da linha dos componentes diesel CRIN (Common Rail Injector) dos Estados Unidos para o Brasil?
CALIXTO O objetivo é ampliar a produção de componentes diesel, como CRIN e Bico Injetor, no mercado nacional. A transferência dessa linha de produção para o mercado brasileiro está alinhada à estratégia global de unificar determinadas demandas de produtos em localidades específicas. Além de ressaltar e focar na competência local, essa ação tem como principal objetivo ganhar mais produtividade, eficiência, qualidade e excelência e tornar o Brasil um centro de competência para produção e comercialização de componentes diesel tanto para o mercado interno quanto externo.
RP A Bosch tem uma das maiores e bem equipadas redes de oficinas do país. Quais os requisitos necessários para fazer parte dessa rede e quais são os benefícios oferecidos?
CALIXTO A Rede Bosch Service, que completa 100 anos de existência em 2021 é, sem dúvida, a maior e mais preparada rede de serviços independente no mercado. Participar desta rede é a garantia de estar na vanguarda da tecnologia, da informação e preparação técnica, recebendo todo o suporte necessário para o seu negócio. Para isso, a Bosch oferece para as oficinas da rede padrões de qualidade, atendimento exclusivo de garantia, apoio técnico (Hotline e visitas de campo), investimentos em comunicação e layouts para materiais de propaganda e política comercial diferenciada. Os funcionários da rede de oficinas Bosch Service têm a possibilidade de participar de treinamentos técnicos, que envolvem todos os produtos e sistemas Bosch. Já os proprietários participam de treinamentos comerciais e de gestão, que visam o aprimoramento tanto na área administrativa financeira quanto comercial. Para ser um Bosch Service é preciso enviar um e-mail para o endereço [email protected], registrando o interesse. Assim, um dos consultores regionais entrará em contato dando continuidade ao processo. Outra opção é entrar em contato com o SAC Bosch – 0800 704 5446.
RP Por falar em assistência, como funciona essa interação com o reparador, principalmente no programa Super Profissionais.
CALIXTO A diversidade do setor automotivo exige atualização constante. Por isso, a Bosch está atenta à evolução do mercado e à importância da capacitação profissional para contribuir com o desenvolvimento dos negócios e serviços de reparação. Neste sentido, disponibilizamos o programa Super Profissionais Bosch, uma plataforma que tem o objetivo de disponibilizar informações técnicas e dicas para os profissionais do mercado de reposição. Além de treinamentos técnicos e comerciais alinhados com as exigências do setor, o programa está disponível em uma plataforma totalmente online com vídeos interativos, fórum de discussões, recomendações de especialistas e uma biblioteca com material para download. A Bosch também possui o Centro de Treinamento Automotivo (CTA), com estrutura localizada em Campinas, cujo objetivo é levar o amplo know-how em reparação automotiva até os profissionais do setor automotivo por meio de uma grade ampla de cursos e treinamentos técnicos voltados para diferentes perfis e necessidades.
RP Quais são os principais lançamentos programados para este ano? Qual a programação para o segundo semestre?
CALIXTO Temos uma ampla gama de produtos tanto para a linha leve quanto de pesados, com qualidade e robustez amplamente reconhecidas pelo mercado. Para isso, estamos sempre atentos às demandas a fim de lançar peças e componentes para complementar nosso portfólio em geral para uma cobertura de frota em todas as linhas de produtos. Para o segundo semestre, estão previstos lançamentos para maior cobertura em todas as famílias, por exemplo: pastilhas, hidráulica, filtros, sondas, kit de reparo da bomba de combustível, sensor de nível, bico injetor, itens de injeção direta e bobinas.
RP A empresa oferece soluções de “para-choque a para-choque”. Como esse conceito é mantido perante a imensa diversificação de modelos e marcas?
CALIXTO A Bosch, uma líder mundial em reposição automotiva, é a única empresa no mercado a oferecer soluções do “para-choque a para-choque” dentro do conceito “Parts, Diagnostic & Service” (Peças, Diagnóstico e Serviços). Por meio desse conceito, atuamos sempre com foco na integração de todos os níveis da cadeia, desde o momento em que o carro entra na oficina, passando por diagnóstico, pelas peças até chegar nas demandas por serviços diversificados – as soluções integradas e conectadas que a Bosch disponibiliza para a adequada manutenção tanto da linha leve quanto a linha de pesados. Buscamos oferecer um portfólio completo para nossos clientes, dentro dos core business que atuamos. É uma tarefa árdua, mas extremamente importante.
RP Considerando a clássica afirmação de que toda crise traz sempre uma oportunidade, quais foram as lições trazidas pela pandemia da Covid-19?
CALIXTO Toda crise gera oportunidades e para isto a Bosch está revisando alguns conceitos mercadológicos por todos os setores industriais, especialmente o automotivo, atuando fortemente no tema de eletrificação, redução de emissões, veículo autônomo, conectividade e digitalização, realizando parcerias estratégicas com empresas privadas, universidades e institutos de pesquisa. Os grandes drivers da disrupção no setor automotivo estão focados em quatro grandes eixos: automação, eletrificação, conectividade e energia limpa. Neste contexto, a Bosch está fortemente presente em todos esses pilares, inclusive liderando alguns deles no mercado. Diante disso, é importante destacar que as oficinas e autopeças precisarão se atualizar frente as novas tecnologias automotivas com o intuito de ampliar a gama de serviços que hoje oferecem para o mercado. A experiência do usuário, a transformação digital, a conectividade e a Internet das Coisas (IoT) estão entre os temas que estarão cada vez mais em alta e que o setor de reposição automotiva terá que estar familiarizado, seguindo as tendências tecnológicas e mudanças comportamentais dos usuários para se manter competitivo.
RAIO-X
O Grupo Bosch tem 12 plantas no Brasil. Emprega cerca de 8.200 colaboradores no país e teve, em 2020, um faturamento líquido de R$ 5,1 bilhões. No mundo, tem cerca de 395 000 colaboradores e gerou vendas de 71,6 bilhões de Euros em 2020.
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