
Aposte nos robôs
Escrito por Pellegrino - Edição 186 Outubro/Novembro
Utilizar a inteligência artificial para produzir conteúdos de marketing ajuda a otimizar as tarefas e manter a regularidade de ações de comunicação
Por Arthur Sales Pinto
A inteligência artificial (IA) já faz parte do mundo da ciência e tecnologia desde os anos 1950, mas foi só recentemente, com o surgimento de ferramentas como o ChatGPT, Gemini e Copilot, que ela entrou de vez no ambiente de trabalho. No marketing, a presença da IA está cada vez mais forte, como revela o estudo Inteligência Artificial no Varejo, realizado pela Central do Varejo no primeiro semestre de 2024 com 307 varejistas brasileiros. A pesquisa aponta que 47% dos entrevistados já utilizam IA em suas estratégias de marketing e vendas, enquanto 46% daqueles que ainda não utilizam planejam aderir em breve.
Apesar de parecer complexa à primeira vista, a IA tem diversas aplicações acessíveis para empresas de todos os tamanhos. Entre as principais ferramentas com impacto imediato no marketing, destaca-se a inteligência artificial generativa, que cria textos e outros conteúdos por meio de comandos dos usuários. Esse tipo de IA está se tornando indispensável para ampliar a capacidade de produção de conteúdo nas áreas de comunicação e marketing. Leonardo Miranda, coordenador de comunicação da FSB Comunicação, usa IA em seu dia a dia para otimizar o processo criativo e a revisão de textos. “Costumo usar para correção ortográfica e gramatical e também para sugestões de estrutura em conteúdos específicos ou apresentações”, comenta.
Na produção de conteúdo, a IA é útil para oferecer ideias iniciais, destravar o processo criativo e até criar conteúdo diretamente – como posts em redes sociais ou chamadas para promoções. Nesse contexto, é fundamental que os usuários revisem o resultado final e entendam como extrair o melhor da ferramenta, ajustando-a conforme as necessidades do negócio.
O que é e como funciona a IA
Indo direto ao ponto, a IA é a capacidade de programas computacionais de realizar tarefas complexas, como aprender e tomar decisões. Para isso, dois elementos são essenciais: os algoritmos – que são instruções criadas por seus desenvolvedores – e uma grande quantidade de dados, que permite ao sistema “aprender” com os erros e aprimorar o seu desempenho ao longo do tempo. Quando usamos ferramentas como o ChatGPT, uma das interfaces mais populares atualmente, ou o Gemini, do Google, fornecemos instruções e feedback que ajudam a melhorar a resposta da IA a cada interação.
Esse processo, conhecido como aprendizado de máquina, torna o sistema mais eficaz em responder aos comandos. Se você já experimentou essas ferramentas, deve ter notado que, quanto mais interações fazemos, melhor o chat responde. Experimente pedir algo como “monte uma programação semanal de posts para o Instagram da minha loja”, “escreva um e-mail marketing promocional para o Dia dos Pais” ou “sugira cinco palavras-chave para o blog da minha empresa”. Essas ferramentas podem realmente otimizar o trabalho de criação de conteúdo, e, quanto mais informações sobre o seu negócio, público e objetivos você fornecer, melhores serão os resultados.
As inteligências artificiais generativas vão além da produção de textos. Elas também podem ser grandes aliadas no marketing visual. Ferramentas como o DALL-E e o Craiyon permitem criar imagens personalizadas, enquanto opções como a Runway possibilitam a produção de vídeos.
Aprendizado
O crescimento explosivo da internet, a vida hiperconectada, as redes sociais e os marketplaces foram fundamentais para o avanço acelerado das inteligências artificiais nos últimos anos. Esses fatores aumentaram de forma significativa o volume de dados disponíveis para treinar máquinas, permitindo que as tecnologias evoluíssem rapidamente após um período de relativa estagnação nas décadas de 1980 e 1990.
Quando interagimos com a IA, ao dar feedbacks no ChatGPT ou ao selecionar “todas as imagens com faixas de pedestres” em verificações de segurança, estamos contribuindo para o aprendizado da inteligência artificial. Cada vez que identificamos corretamente uma imagem, além de “provar” que somos humanos, ajudamos a IA a entender com mais precisão o que é uma faixa de pedestres, por exemplo. Esse processo, repetido milhões de vezes por usuários ao redor do mundo, torna a máquina cada vez mais precisa.
Devido à necessidade de dados extensivos para treinar seus modelos, algumas aplicações de IA no marketing e em outras áreas ainda não são plenamente acessíveis. Exemplos incluem a análise preditiva, em que a IA avalia dados anteriores para projetar cenários futuros e apoiar decisões estratégicas; a personalização de conteúdo, como os algoritmos de recomendação em plataformas de streaming como a Netflix e a Disney+; a segmentação automatizada, que divide o público em grupos específicos com base no histórico de cada cliente; e o uso de chatbots para responder às dúvidas mais comuns dos consumidores.
Embora essas tecnologias estejam mais ao alcance de grandes corporações, gestores de empresas de qualquer porte precisam observar como essas ferramentas podem ser aplicadas em seu dia a dia, já que a adoção antecipada de IA pode se tornar um importante diferencial competitivo.
O futuro da inteligência artificial
Leonardo Miranda acredita que a IA não substituirá o trabalho humano no marketing. “Não vejo o chat substituindo profissionais de marketing, já que essa é uma área essencialmente criativa, na qual a produção de valor para um produto ou empresa depende do entendimento profundo do público. A inteligência artificial ainda não consegue ultrapassar essa barreira”, pondera. Por isso, é crucial revisar o material gerado por IA e adaptá-lo ao estilo e propósito do negócio antes de publicá-lo.
No entanto, especialistas acreditam que as próximas “versões” da IA podem superar até esse limite, justamente por ser dividida em três níveis de complexidade: a inteligência artificial fraca (ou restrita), que é a que conhecemos atualmente; a IA geral (ou forte); e a IA superinteligente, ambas ainda teóricas. No nível da superinteligência, projeta-se que a IA poderia ultrapassar as capacidades humanas em todos os aspectos, o que levanta perguntas complexas sobre o impacto potencial em nossa vida. Essa reportagem, por exemplo, foi escrita por um ser humano, mas até quando seremos capazes de identificar o que é feito por meio de IA ou não?
