
Informação é poder
Escrito por Pellegrino -
Mais do que um diferencial competitivo, o processo de coleta e análise de dados no varejo é questão de sobrevivência
Por Regina Ramoska
O varejo sempre dependeu de dados e informações para tomar decisões. Em um passado nem tão distante, registros em papel, planilhas básicas para acompanhar vendas e estoque e, frequentemente, a boa memória do comerciante eram considerados suficientes. Para entender as preferências dos clientes e aprimorar seus serviços, as lojas investiam em pesquisas de satisfação ou até em um bom bate-papo ao balcão. Esses métodos, embora eficazes até certo ponto, eram limitados pela quantidade de dados que podiam processar e pela velocidade com que podiam reagir às mudanças. Com a chegada da inteligência artificial (IA), a capacidade de analisar grandes volumes de informação em tempo real transformou a maneira como o varejo opera, tornando-o muito mais eficiente.
A IA revoluciona a forma como os negócios são conduzidos, impactando diretamente e de maneira imediata a interação com o cliente final. Com base na análise detalhada de dados, as empresas conseguem compreender melhor os hábitos de consumo, prever tendências e ajustar suas estratégias de acordo com o comportamento do mercado. Isso permite não apenas uma adaptação rápida às mudanças, mas uma antecipação às necessidades dos clientes, oferecendo produtos e serviços de forma mais assertiva.
Além disso, a IA possibilita a automação de processos, o que reduz erros humanos e aumenta a eficiência operacional. O uso de chatbots, por exemplo, melhora o atendimento ao cliente ao fornecer respostas rápidas e precisas às suas dúvidas. As recomendações personalizadas de produtos, baseadas no histórico de compras e nas preferências do consumidor, aumentam as chances de conversão e fidelização.
No entanto, a implementação da IA no varejo requer uma abordagem meticulosa e fundamentada. As empresas precisam se concentrar em construir uma base sólida de dados e processos antes de adotá-la. Isso envolve a integração de diferentes sistemas de dados, a garantia da qualidade e segurança das informações e o treinamento adequado de equipes para interpretar e utilizar os insights gerados.
Agilidade e eficiência
A coleta e a análise de dados permitem que as empresas otimizem seus processos ao identificarem gargalos operacionais e oportunidades de melhoria. De acordo com Carla Loretta Nórcia, CEO & founder da Insight Propaganda e do Movenews, no varejo de autopeças, o processo pode revelar quais tipos de componentes são mais buscados em determinadas regiões ou épocas, o que ajuda a criar ofertas personalizadas, melhorar o atendimento e promover a fidelização. Já o monitoramento de estoque em tempo real reduz o risco de falta de produtos e elimina desperdícios, melhorando a logística. “Empresas como a Amazon, reconhecida pela eficiência, são exemplos de como dados podem ser aplicados para integrar a cadeia de suprimentos e distribuição”, exemplifica Carla.
A tecnologia elevou as expectativas dos clientes, que não só esperam que as marcas conheçam suas necessidades e interesses, como também ofereçam experiências personalizadas e relevantes. Sem uma compreensão profunda de dados, as organizações não conseguirão atender a essas expectativas nem gerar o encantamento necessário para fechar uma venda ou garantir a fidelização.
A análise de dados fornece dicas valiosas para campanhas de marketing e estratégias de vendas mais assertivas, pois permite segmentar clientes com base em comportamentos e preferências, criando ações personalizadas que geram maior engajamento e conversão. Carla cita uma ação promocional de filtros automotivos em que o uso de dados permitiu a uma empresa identificar os públicos mais propensos a trocar produtos por brindes, aumentando o retorno sobre o investimento (ROI) da campanha em 25%. “Isso reforça como o marketing baseado em dados resulta em maior eficiência”, afirma. Sem essas informações, as empresas tendem a oferecer experiências genéricas, o que pode afastar os clientes e empurrá-los para a concorrência. Além disso, as empresas têm maior dificuldade em desenvolver estratégias de retenção, o que prejudica não apenas a fidelização, mas a criação de campanhas eficientes para novos leads.
Como posso melhorar?
Fatores como agilidade na entrega, confiança na qualidade das peças e atendimento eficiente são tão importantes quanto o preço – mais uma vez, é a inteligência de dados que pode ajudar as empresas a identificar pontos de melhoria nesses aspectos e oferecer soluções customizadas. A análise do comportamento dos clientes pode apontar a necessidade de implementar um sistema de rastreamento de pedidos ou aumentar o suporte técnico online, fortalecendo a fidelização.
Segundo a especialista, a “mão na roda” está em sistemas de gestão segmentados como WinPro, Fácil Sistemas, Gestor Software, Soften Sistemas e Vhsys, que oferecem funcionalidades que vão do controle de estoque, gestão de vendas, cadastro de clientes, controle financeiro, emissão de notas fiscais e integração com plataformas de e-commerce até comunicação como WhatsApp. “Essas ferramentas ajudam a localizar e organizar peças por aplicação, gerenciar orçamentos e pedidos, acompanhar a movimentação de produtos e gerar relatórios analíticos, aumentando a eficiência do varejo automotivo.”
Desafios
Ao longo dos anos, fica evidente que os dados, por si só, possuem valor apenas quando inseridos e analisados em um contexto adequado. O modelo de sucesso para as empresas reside na habilidade de combinar ciência de dados com uma escuta ativa dos desejos dos clientes, e esse talvez seja um dos maiores desafios da prática: integrar informações de diversas fontes. Muitas empresas ainda utilizam sistemas independentes que dificultam a consolidação de dados de vendas, inventário, comportamento do cliente e marketing. Adotar plataformas de gestão integrada, como sistemas de Enterprise Resource Planning (ERP), pode facilitar a centralização de dados e garantir que todas as áreas do negócio estejam alinhadas.
Outro ponto é a qualidade dos dados, já que informações imprecisas, desatualizadas ou duplicadas podem levar a decisões equivocadas, impactando negativamente o negócio. A saída é implementar processos rigorosos de limpeza e validação dessas informações, além de investir em tecnologias de governança para manter a integridade delas.
Privacidade
Não raro, são noticiados vazamentos de dados pessoais dos consumidores, o que, entre outras implicações, compromete a confiabilidade e a imagem da empresa. Questões de privacidade e segurança são críticas e balizadas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que impõe rigorosos requisitos sobre como eles devem ser coletados, armazenados e usados.
As empresas devem investir em robustas medidas de segurança cibernética e estar de acordo com as regulamentações de proteção de dados. Isso inclui a implementação de protocolos de criptografia, controle de acesso e auditorias regulares.
Dê o exemplo
É comum que a adoção de uma cultura orientada a dados esbarre na resistência interna e na falta de conhecimento técnico. A saída é promover a educação e o treinamento contínuos para os funcionários sobre a importância e o uso desses indicadores, além de demonstrar, na prática, sua eficácia. A mudança para esse modelo de negócios exige disciplina e compromisso de toda a organização.
Por fim, um dos maiores desafios é garantir que as decisões sejam realmente baseadas em dados, e não em intuições ou práticas tradicionais. É fundamental estabelecer Key Performance Indicators (KPIs) claros e estratégicos.