
DE OLHO NA INOVAÇÃO
Escrito por Pellegrino -
Ranieri Palmeira Leitão, presidente do Sincopeças Brasil e do Sistema Sincopeças Assopeças Assomotos do Ceará, fala sobre o desempenho do aftermarket em 2024 e destaca os pontos a serem observados pelos lojistas em 2025
por Regina Ramoska
Revista Pellegrino: Como o senhor avalia o desempenho do aftermarket neste ano?
Ranieri Leitão: O aftermarket mostrou uma forte capacidade de adaptação em um cenário de adversidades econômicas. Embora os desafios, como a inflação e as flutuações cambiais, tenham impactado o setor, a demanda se manteve consistente, principalmente devido à necessidade de manutenção da frota mais envelhecida. Os principais obstáculos foram a gestão de custos e a necessidade de inovação para continuar competitivo em um mercado em rápida transformação. No entanto, o mercado soube reagir com resiliência, demonstrando a importância de priorizar tanto a eficiência operacional quanto o foco no cliente.
RP: Considerando a complexidade do sistema tributário, quais os principais impactos tanto para as empresas quanto para os consumidores finais?
Ranieri Leitão: A complexidade e a alta carga do sistema tributário brasileiro são, sem dúvida, um dos maiores entraves ao desenvolvimento do setor automotivo. Elas dificultam a competitividade das empresas, que precisam lidar com uma estrutura
de custos muito elevada, inibindo a capacidade de investir em inovação e em melhores serviços. Para o consumidor final, isso se reflete em preços mais altos e menos opções acessíveis. Uma reforma tributária que simplifique o sistema e reduza a carga fiscal traria benefícios significativos para toda a cadeia automotiva, permitindo que as empresas se concentrem no que realmente importa: criar valor para o cliente e melhorar a sua experiência.
RP: Como a implementação do Right to Repair pode impactar a competitividade e a inovação no mercado de reposição automotiva?
Ranieri Leitão: A implementação do Right to Repair é um passo importante para tornar o mercado mais justo e competitivo, garantindo que reparadores independentes tenham acesso às informações técnicas necessárias para realizar reparos de alta qualidade. A medida ainda favorece a inovação, pois exige que as empresas busquem se diferenciar pela excelência no atendimento e pela capacidade de criar novas soluções. É fundamental lembrar que essa mudança também beneficia o consumidor final, que terá mais opções para realizar manutenções seguras e acessíveis, contribuindo para a preservação da qualidade e segurança dos veículos.
RP: Quais são os principais desafios e benefícios da inspeção técnica veicular (ITV)?
Ranieri Leitão: A ITV desempenha um papel fundamental não apenas na preservação ambiental, mas, acima de tudo, na preservação de vidas. Garantir que os veículos em circulação estejam em boas condições de funcionamento é crucial para reduzir o risco de acidentes e proteger motoristas, passageiros e pedestres. O maior desafio está em criar uma infraestrutura eficiente e conscientizar a população sobre a importância da manutenção preventiva, que não só melhora a segurança nas estradas, mas também prolonga a vida útil dos veículos.
RP: Com o envelhecimento da frota, quais as oportunidades para o mercado de reposição?
Ranieri Leitão: O envelhecimento da frota brasileira apresenta uma oportunidade significativa para o mercado de reposição. Veículos mais antigos requerem maior frequência de manutenção, o que gera uma demanda crescente por serviços de reparação e peças. O foco do setor deve ser capacitar a mão de obra, promover soluções acessíveis e conscientizar o cliente sobre a importância de cuidar de seu veículo. O resultado é duplo: melhora-se a segurança e abre-se um novo leque de oportunidades para as empresas.
RP: De que maneira a descarbonização e as reformas tributárias podem influenciar a mobilidade e a estrutura do mercado de reposição automotiva no Brasil?
Ranieri Leitão: À medida que o mundo avança para uma mobilidade mais limpa e eficiente, o mercado precisará se adaptar às demandas por peças e serviços voltados para veículos que estarão contemplados com diferentes matrizes energéticas. Paralelamente, a reforma tributária pode simplificar a vida da maioria das nossas empresas, aliviando a carga fiscal e promovendo maior competitividade.
Porém, a nossa preocupação com o setor de serviços automotivos continua, pois esse setor será bastante afetado com um considerável aumento de impostos. O ponto central é que essas mudanças impactam não apenas o aspecto econômico, mas também o social: ao adotar práticas mais sustentáveis e buscar maior eficiência, estamos contribuindo para um futuro em que a mobilidade seja mais acessível, segura e benéfica para todos.
RP: Quais os desafios na gestão de estoques, considerando a grande variedade de veículos e a rápida obsolescência de alguns componentes?
Ranieri Leitão: Equilibrar a oferta para garantir que as peças certas estejam disponíveis no momento certo é essencial para atender à demanda e evitar custos excessivos com estoque parado. O uso de tecnologia, como sistemas de gestão avançada e análises preditivas, é fundamental. No entanto, é importante não perder de vista o fator humano: garantir que o cliente receba o que precisa, no prazo esperado, faz toda a diferença na construção de confiança e fidelidade.
RP: Com a crescente preocupação ambiental e a busca por práticas sustentáveis, como o aftermarket pode oferecer soluções inovadoras?
Ranieri Leitão: O aftermarket automotivo desempanha um papel fundamental ao adotar práticas sustentáveis, como a reutilização com responsabilidade de peças, a reciclagem e o uso de materiais eco-friendly. A adaptação a essas novas práticas, além de ser uma oportunidade de inovação, atende a uma exigência crescente dos consumidores por soluções que minimizem o impacto ambiental.
RP: A Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) prevê que os veículos elétricos e os híbridos representarão cerca de 10% do mercado em 2025. Qual o impacto na reposição?
Ranieri Leitão: Não acredito que veículos elétricos e híbridos representarão 10% da nossa frota em 2025; entretanto, o crescimento desse mercado é um desafio significativo para a reposição, principalmente em termos de qualificação da mão de obra e adequação dos equipamentos. Esses veículos exigem tecnologias e habilidades específicas para a manutenção, o que implica investimentos contínuos em capacitação.
RP: Considerando o ambiente digital e a perda gradual do contato “ao vivo” com o cliente, que estratégias podem fortalecer a marca e manter esse relacionamento?
Ranieri Leitão: Criar experiências interativas, proporcionar um atendimento de excelência e utilizar as redes sociais para engajamento podem ajudar as empresas a se aproximarem de seus clientes, mesmo à distância. O desafio é criar valor nos pontos de contato, garantindo que o cliente se sinta ouvido e importante.
RP: Quais as expectativas para o crescimento do e-commerce e das plataformas digitais?
Ranieri Leitão: Investir em plataformas digitais robustas e seguras, oferecer uma experiência de compra fluida e otimizar a logística serão pontos-chave para o sucesso. Mesmo no ambiente on-line, o atendimento ao cliente deve ser rápido, personalizado e transmitir confiança. A conveniência aliada a um atendimento de qualidade será o grande diferencial para conquistar e fidelizar clientes.
RP: Quais os principais desafios e oportunidades em 2025?
Ranieri Leitão: Principalmente, equilibrar a gestão de custos com a necessidade de inovação e competitividade. As empresas que conseguirem otimizar processos e manter a eficiência operacional terão mais chances de se destacar, e a fidelização de clientes continuará sendo um diferencial competitivo: oferecer um atendimento personalizado e proporcionar soluções rápidas serão a chave para conquistar a sua lealdade. As oportunidades surgem justamente para as empresas que colocarem o cliente no centro de sua estratégia, criando um ciclo de confiança e satisfação.
